Casa do Jovem recebe a história de um homem que enfrentou vários desafios

Quarta, 27 de Novembro de 2019 - 11:51

A Casa do Jovem recebeu na tarde desta terça-feira (26) uma apresentação de dança muito especial. Os movimentos e os passos precisos de Anselmo da Silva Ferreira, acompanhado de seu par, a filha Gabriela, de 14 anos, não revelam a história de superação que ele compartilhou com os jovens a convite da Subsecretaria da Juventude de Guarulhos.

Ferreira é cego. Ele perdeu a visão aos 20 anos, vítima de uma tentativa de homicídio. “Estava chegando em casa a fim de pegar um capacete para buscar a minha esposa e me confundiram com outra pessoa e atiraram na cabeça. A bala perfurou o lado direito e se alojou no nervo óptico do olho esquerdo. Então no momento eu já perdi a visão. Isso foi em 30 de julho de 2005”.

O projétil ficou no cérebro e ele então começou a busca por algum hospital e médico que o operasse, já que o edema causado pela bala estava começando a prejudicar os movimentos das pernas. “Nenhum médico queria. Então minha avó, que trabalhava em um hospital, conhecia um médico que indicou um neurocirurgião que atendia o meu convênio e explicou que nenhum especialista queria me operar porque no local em que a bala estava localizada havia apenas 1% de chance de eu sobreviver. E foi nisso que eu me agarrei, pois me imaginei cego e preso a uma cadeira de rodas”.

A filha Gabriela, que o acompanha, tinha apenas quatro meses quando o acidente aconteceu. “Ela sempre me esperava para dormir, mas como eu fiquei 11 dias internado, a minha esposa teve que vestir a minha roupa pra ela sentir o cheiro e poder dormir. Mas depois de uns três dias nem vestindo a minha roupa resolveu, foi quando tiveram que levá-la para me ver”.

Os primeiros seis meses foram os mais complicados para Ferreira. “Percebi que não sair de casa estava me prejudicando. Então no final de 2006 eu comecei a minha reabilitação. Foi quando eu fiz um pouco de braile, informática, aprendi orientação e mobilidade (para andar com a bengala) e reaprendi a fazer as coisas em casa”.

E foi realmente uma mudança na vida. Em 2008 ele entrou na faculdade de direito, se formou em 2012 e passou na prova da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) em 2013. Este foi apenas um dos grandes desafios que ele se propôs a realizar. “Junto a isso também sou atleta de goalball pela Associação dos Deficientes Visuais de Guarulhos (Adevig), me tornando artilheiro do time e,na busca por novos desafios, em 2015 integrei o conselho da Adevig e estou lá desde então”.

E a vida agitada não para por aqui: ele ainda dá aulas de informática para cerca de 30 crianças e adultos com problemas de visão. E como a dança entra nisso tudo? “Eu comecei a dançar para ajudar a minha esposa a tratar de uma depressão. Atualmente ela está curada e continua dançando”.

Hoje ele passa para os filhos (além da adolescente, ele tem um menino de seis anos) o quanto é importante a escola. “Não pensava em fazer nada do que faço hoje; eu nunca deparei com um deficiente visual na rua, estudando, até eu mesmo me tornar um. Muitos falam que eu consigo mudar a vida dessas pessoas pelo meu depoimento. Sempre falo que existem as diferenças que precisam ser respeitadas e não é porque sou deficiente visual que eu sou mais ou menos que ninguém. Sou um ser humano como todos os outros. Hoje eu brinco e falo que eu não sou um super-homem, sou um homem super: super alegre, super realizado”.

O subsecretário da Juventude, Dalmo de Matos, agradeceu a presença de Ferreira na Casa do Jovem e o parabenizou pela história compartilhada com os jovens. “Hoje é um motivo de muito orgulho realizar essa atividade aqui”, disse.

Imagens: Fabio Nunes Teixeira/PMG