Sesc recebe 200 pessoas em roda de conversa sobre depressão e suicídio

Terça, 08 de Outubro de 2019 - 17:33

Cerca de 200 pessoas participaram na manhã desta terça-feira (8) da roda de conversa “Conversando sobre Depressão e Suicídio”, promovida pela Secretaria Municipal de Saúde no Teatro do Sesc Guarulhos. A atividade integra a programação da semana dedicada ao tema, que foi instituída pela lei municipal 7.732/2019 e que será celebrada anualmente no período que antecede ou sucede a data de 10 de outubro, Dia Mundial da Saúde Mental.

O objetivo é abrir mais espaços de diálogo sobre o tema, fortalecer as práticas de cuidado e assistência, bem como apresentar as diversas possibilidades de ações que ultrapassam a conduta clínica. Na roda de conversa desta terça-feira, o filósofo formado pela PUC-SP e pesquisador sobre luto e valorização da vida, Lício de Araújo do Vale, que também é membro da Associação Brasileira de Estudos e Prevenção ao Suicídio, falou sobre a complexidade do assunto. 

Segundo o especialista, o suicídio é um fenômeno complexo e multifatorial e, por isso, precisa ser tratado de forma multidisciplinar. Ele explicou que o processo se desencadeia em quatro etapas: primeiro surge a ideação suicida (pensamentos recorrentes de morte), que evolui para a segunda etapa do processo, quando a pessoa faz o planejamento da ação, chegando à terceira fase, que é o momento em que ela tenta executar o plano que traçou. Se a tentativa tem êxito, o suicídio está consumado. 

Vale elencou quatro ideias do autor Edwin Shneidman, psicólogo americano, que fundou uma nova disciplina chamada suicidologia para explicar o complexo fenômeno do suicídio. A primeira é que, para Shneidman, o objetivo do comportamento suicida é escapar de alguma situação. A segunda ideia, importantíssima e fundamental, na opinião do filósofo, é que o estímulo comum para a prática do suicídio está na existência de uma dor psicológica insuportável.  

“Se a gente entender isso, penso que temos a chave hermenêutica para entender o processo do suicídio. Shneidman defende que o suicida não quer tirar sua vida, quer se livrar de sua dor psicológica insuportável que ele não sabe mais o que faz com ela”, explicou Vale. Além disso, o pai da suicidologia fala que o estado mental comum é a ambivalência (oscilação entre querer viver e morrer) e que a emoção presente e comum em todo caso de suicídio é a desesperança, quando a pessoa não tem mais perspectiva de ser ajudada, cuidada e tratada. 

Criação de ambientes acolhedores

Dessa forma, a voluntária do CVV (Centro de Valorização da Vida) Ana Lúcia Sona de Souza defende que precisamos aprender a escutar melhor o outro. Desde 1962 atendendo como voluntária todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone (188), email e chat 24 horas (www.cvv.org.br), o CVV proporciona apoio emocional e prevenção do suicídio.

“Se a gente for capaz de criar ambientes acolhedores, de escuta, de ouvir o outro sem julgamentos ou com discursos, colaboramos para a prevenção do suicídio. Transformaremos os ambientes acolhedores em cuidadores”, destacou Shneidman.

Suicídio cresce entre jovens e idosos 

O pesquisador Lício de Araújo do Vale ressaltou ainda que os números de suicídio estão aumentando assustadoramente entre adolescentes e jovens, bem como entre os idosos, os quais, sob a ótica da filosofia, se matam mais por acúmulos de perdas, do vigor físico e do espaço (morar em casa de terceiros). Nos adolescentes, a causa maior é a depressão infantil, de acordo com o especialista. Ele revelou que a Organização Mundial da Saúde (OMS) acabou de emitir um relatório apontando que cresceram em 200% os índices de depressão na infância e adolescência.

“Tenho a impressão de que os adolescentes e jovens estão abandonados afetiva e emocionalmente. Ninguém ouve o que eles dizem, desqualificamos o tempo inteiro as emoções dos adolescentes e isso vai gerando uma sensação enorme de vazio. Penso que as famílias perderam a capacidade de ensinar seus filhos a se frustrarem, partindo de um pressuposto que frustração é ruim o que, em minha opinião, é um conceito equivocado”, finalizou.  

Também participaram da roda de conversa desta terça-feira a psicóloga do Centro de Atenção Psicossocial (Caps II Bom Clima), Ângela Regina Pilon Vivarelli Martins, o psicólogo do Hospital Geral de Guarulhos, Mário Augusto Rodrigues, e a gerente do Caps II infantil-juvenil Recriar, Márcia Mendes Mattos.Na plateia marcaram presença a secretária de Saúde Ana Cristina Kantzos; profissionais da área;  o gerente do Sesc Guarulhos, Osvaldo Almeida Junior; demais autoridades e pessoas interessadas.

Fotos: Fábio Nunes Teixeira /PMG