O Dia Nacional da Visibilidade Lésbica e o combate ao preconceito

Segunda, 29 de Agosto de 2022 - 14:12

O Dia Nacional da Visibilidade Lésbica é celebrado anualmente em 29 de agosto no Brasil. A criação da data tem como principal objetivo o foco no combate à lesbofobia, ou seja, o preconceito contra mulheres lésbicas. O machismo e outras formas de preconceito são os principais alvos a serem combatidos pelos movimentos que lutam pelos direitos LGBTQIA+.

 

No entanto, sem deixar de lado a importância da luta por uma geral igualdade entre os diferentes gêneros sexuais, o Dia da Visibilidade Lésbica dá destaque ao papel da mulher gay.  As lésbicas, além de enfrentarem o preconceito por sua orientação sexual, ainda carregam uma discriminação histórica por serem mulheres (misoginia).

 

Segundo levantamento da Gênero e Número, empresa social dedicada ao jornalismo orientado por dados, uma média diária de seis mulheres lésbicas sofreram estupro em 2017. O total de casos registrados superou 2,3 mil. Em mais de 60% dos crimes, não era a primeira vez que as vítimas sofriam a violência.

 

Sobre a lesbofobia

 

A lesbofobia é uma palavra que deriva da junção das expressões lesbos e fobia. A expressão lesbos está associada a uma ilha grega, de mesmo nome, onde viveu uma poetisa, aproximadamente entre os séculos 6 e 7 antes de Cristo, chamada Safo. Essa poetisa construiu uma escola só para mulheres, bem como desenvolveu uma obra em que ela declamava o amor entre e pelas mulheres.

 

A palavra fobia significa a rejeição e o medo exacerbado em relação a determinadas situações. Entre os vários tipos de fobia está aquela que se desenvolve em relação a algumas pessoas e aos modos de ser. Esse tipo de fobia está relacionado a religiosidades, etnias, raças e também a sexualidades. Portanto, a lesbofobia é o medo ou rejeição (de forma objetiva ou subjetiva) que as mulheres vivenciam por ter amor, afeto ou desejo sexual por outras mulheres.

 

É importante destacar que ao se afirmar que em nossa sociedade só existe um tipo de relação amorosa ou de desejo muitas pessoas são assassinadas. As mulheres lésbicas são consideradas cidadãs que não respondem a esse modelo que é culturalmente ensinado, de uma única forma de amar. No entanto, é importante relembrar que desde o começo da humanidade existem mulheres que vivenciam seu amor, seu desejo e seu afeto em relações íntimas com outras mulheres.

 

Há muitas expressões para definir as mulheres lésbicas. No nosso cotidiano elas são chamadas, muitas vezes, de sapatão, de caminhoneiros, fanchonas, bolachas, entendidas… A maioria das vezes, ou quase sempre, são expressões associadas com algo maléfico ou discriminatório. Isso reproduz a ideia de que mulheres lésbicas são aquelas que fracassaram nas suas relações afetivas com outros homens; mulheres que querem ser igual aos homens, e até mesmo tomar o lugar deles. Essas são leituras simplistas e preconceituosas, as quais não dão conta das mais variadas formas por meio das quais as mulheres conseguem se amar, se relacionar e construir as suas vidas.

 

O Dossiê Lesbocídio no Brasil, criado por pesquisadoras do Núcleo de Inclusão Social (NIS) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), aponta crescimento da violência contra essa população. Dos 180 homicídios cometidos por preconceito de gênero contra lésbicas registrados entre 2000 e 2017, 126 ocorreram somente de 2014 a 2017.

 

Por conta da crença que só há um tipo de relação possível, um único jeito de ser, muitas mulheres são assassinadas. O Brasil é um dos países que têm os piores índices em relação ao assassinato de mulheres lésbicas. Dentre os dados mais recentes, destaca-se o Dossiê sobre o Lesbocídio no Brasil, pesquisa feita entre os anos 2014 e 2017, como mencionado.

 

No dossiê é possível identificar informações por região, classe, escolaridade, etnia, profissão, entre outros marcadores. Um dos dados alarmantes é que 34% das mulheres lésbicas assassinadas só por serem lésbicas têm entre 20 e 24 anos. Outro destaque assombroso é que 83% dos assassinos das mulheres lésbicas nunca nem as viram na vida, ou mal as conheciam.

Nesse sentido, é importante pensar que os crimes contra as mulheres lésbicas têm a crueldade que não está presente em outros assassinatos. Envolvem desde o estupro corretivo (em que homens violentam uma mulher lésbica porque acreditam que ela vai deixar de ser lésbica) até atos como decepar os seios. Em alguns lugares, retira-se o clitóris para que elas não tenham prazer. Há, ainda, situações em que se inserem objetos cortantes, ou objetos causadores de dor, no ânus e na vagina dessas mulheres como forma de puni-las, o que acarreta a morte.

Há ainda que se fazer outra observação: a lesbofobia atinge todas as mulheres que são lésbicas, mas como vivemos em um país que é classista e racista, as mulheres lésbicas que são negras, pobres e periféricas sofrem ainda mais opressão porque elas carregam essas características que culturalmente inferiorizam as mulheres e, conforme a antropóloga dominicana Ochy Curiel, que é feminista, negra e lésbica, como as lésbicas não dependem dos homens materialmente ou emocionalmente, elas desafiam a norma que tenta estabelecer um jeito único de ser no mundo.

Portanto, ser lésbica não é apenas uma identidade. É, ao mesmo tempo, uma orientação sexual e uma posição política que também pode ser considerada um posicionamento ético, e, acima de tudo, uma forma de assumir a sua vida. Toda forma de amor vale a pena e é importante respeitar as pessoas nas suas individualidades, reconhecendo suas preferências sexuais.

 

26 anos de visibilidade lésbica frente a desafios estruturais

 

Vinte e seis anos depois do evento que daria origem à data, o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica segue a representação de lutas ainda antigas, mas que perduram no cotidiano. Entre elas está o combate à violência, à lesbofobia e ao lesbocídio, retratos de uma realidade que não mudou muito nas últimas duas décadas.

 

Origem do Dia Nacional da Visibilidade Lésbica

 

Em 29 de agosto de 1996 foi realizado no Brasil 1º Seminário Nacional de Lésbicas, que discutiu temas como organização coletiva, saúde e visibilidade. Além de marco para a criação do Dia Nacional da Visibilidade Lésbica, o evento se firmou nos anos seguintes como palco de debate.

 

De lá saíram discussões e reflexões importantes para a "busca por direitos e dignidade, pela livre expressão das sexualidades e pela diversidade de orientação sexual e identidade de gênero".

 

Até 2014 foram realizados sete encontros. Além da cidade do Rio de Janeiro, que recebeu a primeira edição, também foram realizados seminários em Salvador (BA), Betim (MG), Aquiraz (CE), São Paulo (SP), Recife (PE), Porto Velho (RO) e Porto Alegre (RS).

Fontes de apoio: Ccsa UFRN / Calendarr / Justiça Gov / @politicasdadiversidade

 

Arte: Comunicação/PMG