2ª Conferência de Saúde Mental aborda cuidado em liberdade e tratamentos mais humanizados

Quinta, 28 de Abril de 2022 - 16:12

A Prefeitura iniciou nesta quinta-feira (28) a 2ª Conferência Municipal de Saúde Mental de Guarulhos, sob o tema “A Política de Saúde Mental como Direito: Pela defesa do cuidado em liberdade, rumo a avanços e à garantia dos serviços da atenção psicossocial no SUS”. O evento, que ocorreu na UNG - Univeritas Guarulhos, contou com apresentações culturais, palestra sobre saúde mental no contexto da pandemia e rodas de debates. A continuação se dará nesta sexta-feira (29), das 8h às 13h.

 

A conferência é o momento em que os usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), trabalhadores e gestores analisam políticas de saúde mental da cidade, estado e União a fim de pleitear avanços para os serviços de saúde mental disponíveis. “É primordial que o poder público esteja atento aos anseios das pessoas em situação de sofrimento psíquico e eu posso dizer que este time está totalmente empenhado e disposto a ouvir e defender melhorias. Fico muito orgulhoso por poder afirmar que Guarulhos está à frente da luta antimanicomial”, disse o secretário da Saúde, Ricardo Rui.

 

O adjunto da pasta, Michael Rodrigues, ressaltou a importância de olhar para a saúde mental como algo que atinge o indivíduo como um todo. “Muitas das doenças físicas que nós temos são reflexos de doenças mentais. Quando não cuidamos da saúde mental de uma forma adequada diversas outras áreas da nossa vida são impactadas”, analisou.

 

A 1ª Conferência de Saúde Mental de Guarulhos ocorreu em 2010. A atual gestão, comprometida com o tema, se dispôs a viabilizar a continuidade de um movimento tão importante. “É uma honra fazer parte desta iniciativa, especialmente por ela acontecer com intervalo de mais de uma década da primeira edição. Agradeço a todos que assumiram comigo o desafio de tornar esse planejamento uma realidade. Obrigada também aos usuários e familiares dos serviços por compartilharem conosco suas dores, sonhos e lutas. Vocês são o propósito do nosso trabalho”, afirmou a coordenadora da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), Gabriella Facunte.

 

De acordo com ela a rede é um avanço não apenas para a saúde mental, mas para a saúde pública, para a consolidação do SUS e das políticas que promovem a autonomia e a inclusão social. “A RAPS de Guarulhos se mantém firme no propósito de que todo cidadão com transtornos mentais tenha o direito fundamental à liberdade, à possibilidade de viver em sociedade e de receber cuidados e tratamento humanizados”, salientou.

 

Na conferência foram elencados grupos de trabalho para a discussão de propostas em quatro eixos: cuidado em liberdade como garantia de direito à cidadania; gestão, financiamento, formação e participação social na garantia de serviços de saúde mental; política de saúde mental e os princípios do SUS: universalidade, integralidade e equidade; e impactos na saúde mental da população e os desafios para o cuidado psicossocial durante e após a pandemia.

 

“O compromisso deste espaço é dizer ‘não’ ao modelo imposto de violação dos direitos humanos, com modelos de tratamentos violentos, além da ideia do encarceramento. Não é apenas dizer ‘não’ aos manicômios, mas também traçar os cuidados que queremos”, pontuou a psicóloga do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) Álcool e Drogas, Katia Varela.

 

Laudiceia Paz, que hoje atua como conselheira gestora familiar no CAPS Alvorecer, compartilhou sua experiência diante do processo de busca por acolhimento no que tange à saúde mental quando seu filho foi diagnosticado com transtorno do espectro autista (TEA), há 21 anos. “Naquela época ainda não existia CAPS no município. Não foi um processo fácil. Quando olho para trás me vejo no início dessa luta, sem conhecimento. Nós começamos a participar de algumas ações e é justamente em razão desses processos de participação popular que hoje podemos contar com a rede de atenção psicossocial”, lembrou.

 

“Se não fosse a minha vivência no CAPS, com os grupos de família e com os profissionais capacitados para o acolhimento e encaminhamento dos usuários, pensando no protagonismo dessas pessoas, talvez eu não estivesse aqui. Nessa busca por direitos eu pude alcançar algo além da luta pelo meu filho. Esse foi um espaço em que eu pude ter conhecimento e crescimento. Por meio das experiências com outras mulheres durante o percurso eu pude chegar à universidade. Essa conquista foi mediante uma política pública também. Não se faz política pública sem a voz de quem, de fato, necessita dela”, reforçou Laudiceia.

 

Para a participante do Projeto Tear, Simone Aparecida do Carmo, é preciso continuar pleiteando direitos e serviços de saúde mental mais humanizados. “Antigamente eu não falava com ninguém, não sabia andar de ônibus, não saía de casa. Ficava no quarto, presa. Depois que conheci os atendimentos da cidade e fui encaminhada para o Tear isso mudou a minha vida. Nenhum passo atrás, manicômio nunca mais”, frisou. O Tear é um serviço da rede de atenção psicossocial de Guarulhos que propõe atividades artesanais e de serviços por meio de nove oficinas de trabalho com foco na inclusão social.

 

Com a realização da conferência municipal, o próximo passo será encaminhar e ampliar as propostas no debate da Conferência da Macrorregional, que inclui as cidades do Alto Tietê, e na Conferência Estadual, rumo à Conferência Nacional de Saúde Mental.

 

Fotos: Divulgação/PMG